Publicado originalmente no PORTAL RAIZES, em 26 de janeiro
de 2021
Por Clara Dawn
A coisa mais difícil nesta Terra cheia de estigmas, é ter a ousadia de ser quem realmente se é, e consequentemente, aceitar o outro exatamente como ele é. Você consegue dizer quem é você, ou você só se reconhece como o mundo diz que você deve ser?
O que é autoconhecimento?
Autoconhecimento significa o hábito de prestar atenção à
maneira como você pensa, sente e se comporta, como explica as coisas para si
mesmo e com compreende o mundo ao seu redor. Ter autoconhecimento significa que
você tem uma compreensão nítida de sua personalidade, incluindo seus pontos
fortes e fracos, seus pensamentos e crenças, suas emoções e suas motivações.
Significa compreender suas próprias emoções e humores. Significa prestar atenção em como tendemos a agir e nos comportar em certas situações. Quais são nossas respostas padrão para as coisas? Quais são nossos hábitos e tendências? Em suma, autoconhecimento nada mais é do que a análise psicossocial de si mesmo.
Para que serve a busca pelo autoconhecimento?
Em primeiro lugar, o autoconhecimento não é para que você
fique melhor para convívio com outro, para o outro e com o outro. O autoconhecimento
é para que você fique melhor consigo mesmo. Mesmo que isso signifique ficar
‘ruim’ aos olhos dos outros.
Ser quem você é, é o máximo que se pode ser. Mas há muitos encargos para ser quem você é. Ignorar a validação alheia é o maior deles. Por isso, nos esforçamos demasiadamente para sermos somente aquilo que os outros esperam de nós. E isso é ótimo! Para os outros, é claro. Seja quem você nasceu para ser! Você é mais e não menos.
Uma pessoa que pratica o autoconhecimento:
decide praticar o amor próprio e priorizar a sua saúde
mental e emocional;
desenvolve a inteligência emocional (identificar suas
emoções de acordo com diversas circunstâncias);
desenvolve a autorregulação (aprende regular suas emoções de
acordo com diversas circunstâncias);
desenvolve com tranquilidade a autocrítica e aprende a
potencializar seus pontos positivos e neutralizar os negativos, para o melhor
convívio consigo e com os outros;
desenvolve a autoconfiança e por isso melhora
significativamente suas relações afetivas e profissionais;
melhora potencialmente a qualidade do humor;
desenvolve uma comunicação mais eficaz;
não tem receio de mostrar suas habilidades, tampouco suas
inabilidades.
10 maneiras de praticar o autoconhecimento
É importante praticar a busca pelo autoconhecimento. Porque
depois que você descobre quem você é essencialmente, você pode enfim fazer
grandes mudanças: energizando os seus pontos positivos e esmaecendo os
negativos com o intuito de tornar confortável o convívio consigo mesmo e com
seus próximos. Coisa muito desconfortável é, tentar em vão, ser a pessoa que o
outro espera que você seja em detrimento de ser quem você é. Ocorre, muitas
vezes, em casos assim, a frustração de não poder ser quem você, e tampouco ser
o que outro espera que você seja.
O autoconhecimento é um processo bastante demorado, porque implica no quanto de verdade sobre si mesmo, você consegue suportar. Pensando numa forma de auxiliar nesse processo, como psicanalista, elaborei estas 10 maneiras de praticar o autoconhecimento. Confira:
1 – Deseje profundamente a busca pelo autoconhecimento
Deseje profundamente a busca pelo autoconhecimento e então
comece a trilhar esse complexo caminho, fazendo, a princípio, uma bateria de
exames com um clínico geral. Conheça o seu corpo, as suas heranças genéticas, o
histórico de saúde mental. De posse dessas informações você poderá cuidar de
sua saúde integral com responsabilidade: aceitando, compreendendo e se amando
exatamente como é. Isso lhe dará o pontapé inicial para descobrir quem é você
física, biológica e mentalmente.
2 – Comece um tratamento com uma nutricionista e com uma terapeuta
Comece um tratamento com uma nutricionista e com uma
terapeuta: se há duas pessoas que necessitam estar sempre presentes em nossas
vidas, são esses profissionais da alimentação e da análise de nós mesmos. A
nossa alimentação influencia os sistemas digestório, articular, circulatório,
muscular, linfático… Todo o corpo sofre com a má alimentação, e com isso, o
nosso comportamento físico, emocional, social… se altera significativamente. A
mesma preocupação com aquilo que comemos, precisa ser conduzida à todas as
áreas e aspectos da vida, e é aqui que entra o trabalho do terapeuta. É como
tratar uma queimadura. Uma queimadura só sara de dentro para fora. Não é fácil,
é difícil e dói. Mas só dói até não doer mais.
3 – Faça longas caminhadas sozinho e dedique tempo ao exercício da contemplação da natureza
Faça longas caminhadas sozinho e dedique tempo ao exercício
da contemplação da natureza. Enquanto você caminha sozinho com os seus
pensamentos, sozinho com a sua respiração, sozinho com o seu coração, sozinho
com a sua autoanálise, sozinho com o seu Poder Superior… você vai se
conhecendo, vai meditando em suas atitudes, palavras e vivências interpessoais.
Jesus, deu um conselho para o alívio da ansiedade: olhai os lírios do campo.
4 – Faça um recordatório de suas descobertas sobre si, e aceite a opinião de alguém em quem confia
Faça um bloco de notas onde possa anotar suas reflexões
acerca de sua caminhada em busca do autoconhecimento. É importante também que
esteja aberta á opinião de alguém em quem confia e sabe que opinará sem
julgamentos.
5 – Explore novas vivências
Explore novas vivências, especialmente: a leitura de
romances de ficção, a escrita, a pintura, a dança, o canto, a culinária… Se
obrigue a praticar uma atividade física: ioga, musculação, natação, corrida…
Essas vivências nos conduzem a lugares incríveis em nós mesmos. Essas vivências
resolvem um sem número de desordens emocionais.
6 – Pratique o ‘antes o outro aborrecido porque eu disse não, do que eu aborrecido por ter dito sim’
A permissão da prática do amor próprio é fundamental para o
processo de autocura e autoconhecimento. Quando você se ama, se prioriza, se
respeita, se valoriza, você indica aos outros a maneira como deve ser tratado.
E o contrário também, pois as pessoas nos dão o valor que a gente se dá.
Praticar o ‘antes o outro aborrecido do que eu’, não é egoísmo. É amor próprio.
Afinal de contas, quem estará com você por todos os dias da sua existência,
cuidando de você, lhe amando, lhe respeitando e lhe valorizando, senão você
mesmo?
7 – Aceite seus erros e se responsabilize por eles
Aceite seus erros e se responsabilize por eles, mas não
transforme o sofrimento e a culpa em dor remanescente. O erro é mais útil do
que o acerto. Pois é com o erro que buscamos melhorias, evolução, e o
preenchimento dos vazios existências. Num mundo onde não há vivências com
tédio, com os erros e as frustrações, nada muda. Nada avance. Tudo fenece
rapidamente.
8 – Não faça da culpa uma âncora: se perdoe, peça perdão, perdoe
Não faça da culpa uma âncora: se perdoe, peça perdão,
perdoe. Existe uma diferença entre o perdão religioso e o perdão terapêutico. O
perdão religioso sugere que você perdoe quem lhe ofendeu setenta vezes sete; o
perdão terapêutico sugere que você se perdoe por ter vivido aquela situação,
que você compreenda, aceite e ressignifique o que lhe aconteceu. Reconheça seus
erros e peça perdão. Entretanto, respeite a decisão do outro caso ele não
queira lhe perdoar. Da mesma maneira, você tem todo o direito de não perdoar
quem teve a chance de não lhe ferir, mas feriu. Por outro lado, não faça da culpa
ou da falta de perdão, âncoras capazes de mantê-lo afogado em mágoas. Dê tempo
ao tempo, meio passo, meio passo. Como disse Guimarães Rosa, é só aos poucos
que o escuro fica claro.
9 – Pratique a serenidade e também a raiva produtiva
Pratique a serenidade e também a raiva produtiva: a
serenidade é aquela coisa toda poderosa que abala rígidas estruturas. A prática
da serenidade é importante para o equilíbrio e a inteligência de nossas
emoções, bem como para o exercício da paz de espírito. E não seria a paz de
espírito, felicidade em meio as tormentas da vida? Mas não se deve isentar o
espírito das visitas de um furação. Porque não se conquista o direito de ser
quem você é, essa ‘violência social’, com resignação silente. Se quiser
pertencer a si mesmo, se quiser chegar inteiro do outro lado do rio, precisará
correr sobre pedras e jacarés, e não pisar manso.
10 – Tenha coragem de aceitar e assumir quem você é
A coisa mais difícil nesta Terra cheia de estigmas, é ter a
ousadia de ser quem realmente se é, e consequentemente, aceitar o outro
exatamente como ele é.
Tornar-se quem se é, não é uma busca racional. É um desejo
do espirito. O espírito é o inconsciente, e o inconsciente é a cura por
intermédio do quanto de verdade sobre si mesmo você é capaz de suportar. Não é
nada fácil despertar o inconsciente. Não é nada fácil descobrir, compreender,
aceitar e ressignificar as verdades sobre si mesmo. Mas o inconsciente não pode
ser silenciado, ele fala por intermédio de sintomas que se apresentam como
doenças emocionais, mentais e físicas. Esse encontro consigo mesmo só pode
acontecer de modo racional, em análise. Entretanto, uma vez confrontado com as
verdades sobre si mesmo, o analisando pode enfrentá-las – consciente – ou fugir
delas inconscientemente. Você consegue dizer quem é você, ou só se reconhece
como o mundo diz que você deve ser?
Texto de Clara Dawn, escritora, pesquisadora, palestrante, psicanalista, psicopedagoga, presidente do Instituto de Pesquisas Arthur Miranda em prevenção à drogadição, aos transtornos mentais e ao suicídio na infância e na adolescência.
Texto e imagem reproduzidos do site: portalraizes.com
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